Grupo de Paliteiros da AAOUP

SOBRE A DANÇA DOS PAULITEIROS DE MIRANDA DO DOURO

Esta dança aparece no Orfeão Universitário do Porto no ano lectivo de 1955/56. As razões que levaram à sua inclusão no programa do OUP serão explicadas depois de algumas notas sobre a origem e localização destas danças.

A dança dos Pauliteiros, assim chamada devido aos dançadores usarem paus durante as suas evoluções coreográficas, é essencial-mente máscula, vigorosa e, por isso, sòmente executada por homens, exigindo para a sua prática uma incalculável presteza.

A origem desta dança é muito discutida. Há quem afirme ser de origem sagrada mas, se a observarmos bem, como o fez Antero de Figueiredo, reconheceremos estar ante uma dança guerreira.

A opinião mais vulgarizada é de que a Dança dos Pauliteiros descende da dança pírrica dos gregos e numerosas são as caracterís-ticas que, se não identificam as duas danças, servem ao menos para auxiliar o estudo genético da sua evolução.

Comparando os movimentos acelerados e rítmicos dos dançadores guerreiros da antiguidade clássica, não na sua expressão bélica introduzida em Roma e desta comunicada até nós, mas nas suas semelhanças de atitudes coreográficas, vemos terem os costumes dos discípulos de Pirro sido conservados na tradição dos rústicos habitantes das Terras de Miranda.

É neste planalto, no nordeste transmontano, estreitamente apertado pelo Rio Douro, que esta dança é executada em várias povoações do concelho de Miranda do Douro.

Região de natureza rica e fértil, a sua maior riqueza reside sem dúvida nos costumes que, devido ao seu isolamento, se mantêm em toda a sua vivência, oferecendo-nos um verdadeiro relicário de etnografia.

Os diversos bailados ou "laços" ("lhaços", em Mirandês) têm cada um uma letra própria, evocando determinados motivos, guerreiros, religiosos, profissionais ou lendários.

Um dos mais célebres, o "Mirandun", evoca o capitão Mirandun, desaparecido durante uma escaramuça com espanhóis. Durante longos tempos as mulheres e as crianças deslocavam-se às arribas do Douro, chorando a morte do valente capitão, esperançados que aparecesse ainda, no meio dos rochedos, o heróico defensor das Terras de Miranda. Mas

"... La eternidad se passa Mirandun no vino ya..."

Os executantes destes bailados, em número de oito, dançam com paus nas mãos ("palotes", em Mirandês), pequenos bastões de madeira rija de carvalho ou freixo de pé, seco e resistente, que aguente bem as pancadas dos outros paus.

Os dançadores têm como traje característico calça vulgar arremangada até por baixo do joelho, colete enfeitado com lenços e fitas na frente, banda de seda larga a tiracolo; usam também saias brancas e sobre elas ainda quatro lenços de seda, meias de lã brancas com ramos pretos e botas de bezerro grossas, na sua cor natural; na cabeça, chapéu enfeitado com fita multicolor e quatro palmitos de feitura caseira; vestem ainda camisa de linho ou pano curado, com colarinhos de cantos redondos e colete enfeitado na frente e nas costas com fitas multicolores. Sobre os ombros, um lenço garrido estampado, de franja.

Folclore com características tão típicas e evocativas não poderia deixar de influenciar os naturais transmontanos transplantados para a Universidade do Porto e seu Orfeão, a procurar aí o ambiente folclórico que lhes falasse das tradições da sua terra natal. Assim, depois de amadurecida durante alguns anos, a ideia frutificou no Grupo dos Pauliteiros do Orfeão Universitário do Porto.

No ano lectivo de 1955/56, as águas furtadas da antiga Faculdade de Economia são as primeiras testemunhas do esforço e da persistência desse grupo de oito orfeonistas que febrilmente ensaiavam, esquecendo não raras violências físicas sobre os seus dedos, até poderem finalmente apresentar ao público um número sempre dos mais apludidos.

Aqui ficam os seus nomes, para que os vindouros lhes fiquem gratos pelo património folclórico herdado do seu esforço.


BELMIRO NEVES ANTÃO
MÁRIO DO NASCIMENTO NORO GOMES
SERAFIM CORREIA PINTO GUIMARÃES
SERAFIM DOS SANTOS GUIMARÃES
JOSÉ DA PAZ BRANDÃO RODRIGUES DOS SANTOS
ARTUR MÁRIO GONÇALVES DE OLIVEIRA E SILVA
JORGE MACIEL DE BRITO LIMPO TRIGUEIROS

Na actualidade, como é inevitável, são as gerações mais novas de antigos orfeonistas que têm permitido assegurar a permanência da Dança dos Pauliteiros no seio da nossa Associação.

 Momentos

Pauliteiros OUP

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